Crônicas de Elyrion - O Vale Esquecido Cap.8

 Capítulo 8


Vozes Antigas

O caminho pela Floresta de Tharun seguia sinuoso, e o grupo, cansado da batalha contra os kobolds, continuava em silêncio. A vegetação parecia mais densa, e o ar ficava cada vez mais pesado, como se o próprio mundo soubesse que algo se aproximava.

Kael foi o primeiro a parar.

— Ouçam isso…

Um som baixo, arrastado, como um lamento distante, ecoava entre as árvores. Dareth franziu o rosto.

— Fiquem atentos. Isso não é normal.

Sem hesitar, seguiram o som. A floresta abriu-se numa pequena clareira, onde a luz filtrada pelo topo das árvores parecia mais fria, quase prateada.

No centro da clareira, deitado sobre um leito de musgo e folhas secas, estava uma criatura imponente — um cervo de pelagem alva como a lua, seus chifres formando galhos retorcidos como de uma árvore antiga. Feridas profundas marcavam seu corpo, e uma névoa escura subia de suas patas traseiras.

Lian, com os olhos arregalados, sussurrou:

— Que criatura é essa?

Dareth se aproximou devagar, com respeito. A expressão no rosto do velho guerreiro era dura, mas havia uma sombra de tristeza ali.

— Um Guardião da Floresta… um dos antigos protetores deste mundo.

O cervo ergueu a cabeça com dificuldade. Seus olhos de azul profundo se fixaram no grupo e uma voz, antiga e suave como o vento, falou direto às suas mentes:

“O véu… foi rompido… Elyrion… retornou…”

O nome pairou no ar como um trovão abafado. As crianças se entreolharam, tentando entender.

— Quem… quem é Elyrion? perguntou Mira, sua voz quase um sussurro.

Mas o Guardião não respondeu. Sua cabeça pendeu, e o brilho em seus olhos se apagou. Antes que tocassem nele, Dareth avançou e pousou a mão na testa do animal.

— Vá em paz, velho amigo.

Um brilho suave envolveu a criatura, que aos poucos se desfez em pétalas prateadas, levadas pelo vento. No lugar onde repousava, restava apenas um pequeno amuleto de prata, gravado com símbolos circulares e a mesma marca que carregavam nos braços.

Kael se ajoelhou e pegou o objeto.

— Olhem isso… parece com as nossas marcas.

Dareth pegou o amuleto das mãos do garoto e o prendeu ao próprio pescoço.

— Mais uma peça do quebra-cabeça… e menos tempo do que gostaríamos.

Sem dizer mais nada, o homem virou-se e seguiu adiante, deixando-os com as perguntas.


Ao Cair da Noite

O grupo montou acampamento junto a um rochedo antigo. As árvores ao redor formavam um anel natural, protegendo-os parcialmente da névoa. O céu estrelado daquele mundo parecia mais próximo, e mesmo o ar parecia sussurrar.

As crianças sentaram-se em volta da fogueira improvisada. Dareth mantinha-se afastado, encostado numa árvore, observando em silêncio.

Kael, mexendo nas bolsas de couro, pegou um dos pequenos cristais de Essência.

— Essas coisas são meio… estranhas.

Mira estendeu a mão e pegou um também.

— Parecem pulsar. Como se estivessem vivos.

Sem pensar, ela ergueu o cristal contra o luar. No instante em que a luz atravessou o fragmento, uma onda de energia envolveu o grupo.

De repente, tudo sumiu.

Estavam numa vastidão de ruínas antigas. Colunas quebradas e símbolos desconhecidos gravados em pedras flutuavam no ar. Ao longe, uma figura encapuzada erguia uma espada de energia negra. Atrás dela, um exército de sombras tomava forma.

E diante dessa figura… uma criança.

As marcas nos braços dessa criança brilhavam como estrelas em meio à escuridão.

A figura encapuzada virou-se e, como se os enxergasse, falou:

“Vocês não podem impedir. O ciclo sempre se repete.”

A voz reverberou como um trovão, e a visão desapareceu tão rápido quanto veio.

De volta ao acampamento, Mira deixou cair o cristal, que se quebrou em pedaços. Todos estavam ofegantes, os rostos pálidos.

— O… o que foi isso? perguntou Nira, com a voz trêmula.

Dareth se aproximou, com um olhar grave.

— Visões da Essência. Às vezes… certos cristais mostram fragmentos do passado, ou do que está por vir.

Ele agachou-se perto dos fragmentos quebrados.

— Isso foi um aviso. E não um dos bons.

Kael engoliu em seco.

— Aquela criança… quem era?

Dareth não respondeu de imediato. Pegou um pedaço de cristal e guardou no bolso.

— Amanhã… entramos no Vale Esquecido. Se sobreviverem, talvez descubram.

O silêncio pairou como um manto pesado. Naquela noite, ninguém conseguiu dormir em paz.

Continua no Capitulo 9...

Comentários

  1. Nossa que leitura, você escreve muito bem! Obrigada mesmo! Algo me que deixou imensamente imersiva

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  2. Muito obrigado pelo carinho! Saber que a história conseguiu te envolver dessa forma é a melhor recompensa que eu poderia ter. Fico imensamente feliz em saber que você se sentiu imersa no mundo que estou criando. Pode esperar que vem mais por aí! ✨📖

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