Capítulo 3
O Santuário de Myr
A floresta parecia viva, como se observasse a cada passo que davam. Lian sentia o símbolo em sua mão latejar, guiando seus pés por trilhas que desapareciam e surgiam conforme eles avançavam. Às vezes, uma árvore se inclinava sutilmente, como se indicasse o caminho certo. Outras vezes, o vento soprava apenas para afastar a névoa densa que cobria o chão.
Depois de horas de caminhada — ou o que pareciam horas, pois o tempo ali não seguia o mesmo ritmo do mundo que conheciam — avistaram uma estrutura antiga, parcialmente tomada pela vegetação.
O Santuário de Myr.
Era uma construção circular de pedra branca, com símbolos gravados em toda sua extensão. No centro, um obelisco flutuava sobre uma bacia de água cristalina, e quatro estátuas, cada uma representando um elemento — fogo, ar, terra e água — pareciam vigiar o lugar.
Assim que os quatro se aproximaram, as marcas em suas peles brilharam mais forte. A água no centro se agitou, e um vulto começou a se formar sobre ela.
Uma figura encapuzada, feita de pura energia, apareceu. Sua voz, como um eco de mil vozes antigas, preencheu o ar.
— Portadores das Chamas. O ciclo retorna, e com ele, a ameaça de Elyrion.
Lian franziu a testa.
— Quem… ou o que… é Elyrion?
A entidade hesitou, como se escolher as palavras fosse perigoso.
— Elyrion foi um guardião, há muito tempo esquecido. Criado para proteger os portais e manter o equilíbrio entre os mundos. Mas a queda de Veyra corrompeu sua essência. Agora, ele busca destruir tudo o que existe para moldar uma nova realidade, uma onde apenas sua vontade perdure.
Kael deu um passo à frente.
— E nós… o que temos a ver com isso?
— Vocês são descendentes das linhas ancestrais. O impacto despertou fragmentos adormecidos em seus espíritos. Aqui, neste plano, podem se tornar aquilo que foram destinados a ser: os Guardiões dos Véus.
A figura então ergueu a mão, e pequenas partículas de luz se reuniram, formando quatro pequenos cristais flutuantes. Cada um deles voou até os jovens e pairou diante de suas testas, antes de se dissolver em pura energia.
— O Santuário de Myr é um dos últimos refúgios sagrados deste mundo. Aqui, vossos dons podem ser treinados, e o mapa para as próximas passagens será revelado. Mas saibam… as Sombras de Elyrion já se movem. Seus asseclas — as Bestas Sem Forma — caçam os portadores.
A água no centro escureceu, e imagens distorcidas mostraram criaturas grotescas, feitas de sombra e fumaça, se arrastando pelas florestas próximas.
— Sigam para o Vale Esquecido. Lá encontrarão o Ancião Aerthas, único capaz de revelar o próximo portal e contar toda a verdade sobre Elyrion.
A imagem então se desfez, deixando o grupo em silêncio.
Mira respirou fundo.
— Bom… pelo menos agora temos um objetivo.
Nira colocou a mão no ombro de Lian.
— E parece que não dá mais pra voltar.
O símbolo na mão de Lian brilhou uma última vez, e ele sentiu uma certeza estranha. Eles tinham sido chamados para algo muito maior do que podiam entender.
E a aventura mal havia começado.
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