Capítulo 5
Sombras na Névoa
A noite, se é que aquele mundo possuía noite, chegou como um véu cinzento. O céu dourado do entardecer foi lentamente substituído por um breu espesso, onde as árvores pareciam dobrar-se para frente, como se tentassem esconder algo.
O grupo seguia em silêncio, atentos aos pequenos sons na mata. Lian sentia um incômodo crescente no peito, como se a marca em sua mão ardente o alertasse para um perigo invisível.
Foi Kael quem parou de repente, os olhos arregalados.
— Ali… no meio da névoa.
Entre as árvores, uma forma indistinta se movia. Uma massa de sombras e fumaça negra, sem rosto, mas com olhos pálidos e oblíquos que brilhavam no escuro. A criatura soltava um som grave, como um eco sufocado, e começou a avançar.
Mira tentou invocar o vento, mas as rajadas dissiparam-se antes de tocar a criatura.
— Não funciona…
Nira recuou, o instinto de cura nada podia contra aquilo.
Lian fechou os punhos, sentindo o calor subir. Pequenas labaredas saltaram de suas mãos, e ele arremessou uma delas contra a criatura. A chama atingiu o vulto, que se contorceu, mas logo voltou a avançar, mais rápido.
Kael tentou erguê-la do chão com energia, mas sua conexão era fraca demais.
— Ela é muito forte!
A criatura avançou, uma garra feita de sombra vindo na direção de Lian. Ele mal teve tempo de se esquivar, sentindo a pele arder onde o golpe passou raspando.
O desespero começou a tomar conta. Mira recuava, Kael tropeçava em raízes, e Nira tentava manter todos de pé.
Foi quando a névoa ao redor deles se agitou.
Uma figura envolta em um manto escuro surgiu das sombras. Não se sabia de onde tinha vindo, mas sua presença fez a criatura hesitar. De sua mão, uma lâmina curva feita de pura luz tomou forma.
— Retorne ao véu, criatura.
A voz era calma, mas carregada de autoridade.
Com um gesto rápido, a figura cortou o ar. A lâmina atravessou a criatura, que se desfez em fumaça e gritos roucos, desaparecendo como poeira levada pelo vento.
O silêncio voltou.
Os quatro amigos respiraram fundo, ofegantes. Lian sentia o símbolo em sua mão queimar suavemente, como se reconhecesse aquela energia.
A figura se virou, deixando o capuz revelar um rosto jovem, mas marcado pelos anos. Cabelos prateados caíam sobre os ombros, e os olhos — dourados e antigos — se fixaram neles.
— Vocês não deveriam estar aqui sozinhos. Mas se o destino os trouxe… então ao menos aprendam a sobreviver.
Ele olhou para o céu escuro.
— Amanhã partiremos para o Vale Esquecido. Mas saibam… o caminho não será fácil.
Virou-se e começou a caminhar, sem esperar resposta.
Lian trocou olhares com os outros. Não havia muito a decidir.
E então seguiram o estranho pela floresta, sem saber que os próximos passos os levariam não só para o Vale Esquecido… mas direto para uma armadilha.
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